segunda-feira, julho 12, 2010

Arminianismo - Parte IX

"Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso? E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?” (Romanos 9.14-24)

O problema do arminianismo é que ele busca impor em Deus conceitos da sabedoria humana decaída pelo pecado. A sabedoria humana decaída pelo pecado ensina que alguém só pode ser responsabilizado pelos seus atos no caso de seu ato ter sido determinado pelo livre-arbítrio do homem. O que essa suposta sabedoria não percebe é que, acreditando ser coerente, lógica e sábia e racional, ela é na verdade incoerente e irracional. A idéia de que um homem só pode ser responsabilizado pelos seus atos quando seus atos forem praticados pelo uso do seu livre-arbítrio é primeiramente tola porque ela é anti-bíblica. Deus é o único que determina verdadeiramente aquilo que as coisas são. Qualquer idéia que seja contrária ao que Deus diz, é, portanto, automaticamente irracional de acordo com o Salmo 14.1. A idéia de que o homem só pode ser responsabilizado pelos seus atos se os seus atos forem feitos pelo uso de seu livre-arbítrio não é somente anti-bíblica, mas é completamente irracional (como tudo o que é anti-bíblico).

O primeiro motivo é porque a idéia de que alguém só pode ser responsabilizado por aquilo que escolhe por meio de seu livre-arbítrio se baseia na existência de algo que não existe que é o livre-arbítrio. Mas a verdade é que se o livre-arbítrio existisse, aí sim, ninguém poderia ser responsabilizado por nada. Pra entendermos isso, devemos primeiramente relembrar e realmente compreender o que essa idéia significa. O que “livre-arbítrio” significa é que os atos das pessoas em determinado momento poderiam tender tanto para uma escolha quanto para a escolha contrária. Significa que quando uma pessoa escolheu X, naquele exato momento ela poderia ter escolhido Y. Mas se fosse verdade que no momento em que uma pessoa escolhesse X, naquele exato momento e sob as mesmas circunstâncias ela poderia escolhido Y, isso significaria que os atos das pessoas não seriam determinados por sua vontade, por sua personalidade e por aquilo que elas são. Isso significaria que a vontade, a personalidade e aquilo que uma pessoa é não teria influencia nenhuma sobre aquilo que ela faz. Se alguém mata uma pessoa por dia, nós sabemos que ela é uma assassina. Se um homem namora outro homem, nós sabemos que ele é um homossexual. Se alguém compra Coca-Cola todo dia pra beber, nós sabemos que a sua característica pessoal é ter algum tipo de vontade de beber Coca. Nós sabemos disso porque no fundo nós sabemos que o livre-arbítrio não existe. Nós sabemos que os atos das pessoas são determinadas diretamente por suas características pessoas que por sua vez determina as suas vontades. Se uma pessoa no momento da escolha, escolher X, isso é somente porque essa é sua vontade maior é essa. E se sua vontade maior naquele momento era X, isso significa que ela não tinha livre-arbítrio pra escolher Y, pois pra que a escolha de Y fosse possível, a sua vontade teria que ser por Y e não por X. A vontade do homem nunca é livre pra escolher duas coisas ao mesmo tempo. “Vontade” é, por definição, a determinação de escolher uma opção especifica. Isso significa que a opção contrária é impossível de ser escolhida.

E se a vontade de uma pessoa no momento de suas escolhas não determinasse necessariamente a sua escolha, como então a pessoas poderia possivelmente ser responsabilizado por ter feito aquilo? As pessoas só podem ser responsabilizadas pelos seus atos porque os seus atos são determinados por sua vontade, sua personalidade e por quem ela é. As escolhas não existem no vácuo, sem causa nenhuma. Toda escolha que alguém efetua é determinada por sua vontade maior na circunstância em questão. Toda escolha é diretamente causada pela vontade maior do homem. E a vontade do homem, por sua vez, é determinada pela sua personalidade, por aquilo que ele é. Se as escolhas existissem no vácuo, sem uma determinação necessária da vontade do homem naquele momento, impossibilitando uma escolha contrária, isso significa que as escolhas não teriam causa nenhuma na pessoa que escolhe. E se alguém não é a causa de uma escolha, então o que é? Se alguém não é a causa direta de sua escolha, aí sim, ela não pode ser responsabilizada por aquilo que ela faz.

Se as pessoas realmente tivessem livre-arbítrio, se os atos das pessoas fossem livres daquilo que elas são, de suas vontades, podendo até ser contrária ao que elas são e contrárias as suas vontades, então nós viveríamos em um mundo completamente insano por sua imprevisibilidade Se você fosse visitar a sua mãe amanhã, por exemplo, você não poderia saber se ela ia te abraçar ou se ela iria te esfaquear ou se ela iria tentar pular do telhado da casa. O motivo pelo qual a maioria das pessoas sabem que suas mães não irão tentar esfaqueá-los é porque eles no fundo sabem que suas mães não tem livre-arbítrio pra tentar esfaqueá-los. Pra que alguém tente assassinar outra pessoa, é preciso primeiramente que existe algum tipo de raiva e ódio contra aquele que se quer matar. Como a maioria das mães amam seus filhos, elas são incapazes de cometer o ato de procurar assassina-los. A vontade de mães que amam seus filhos é dar carinho a eles. Por esse motivo escolhem abraça-los e não mata-los.

Mas alguém ainda poderá dizer: “Tudo bem, tudo bem. Eu posso até aceitar que a maioria de nossas escolhas são diretamente determinadas por nossas vontades que por sua vez são determinadas por nossa personalidade, por nosso caráter, por aquilo que nós somos. Mas eu não acredito que as nossas escolhas são sempre determinadas por nossas vontades. Muitas vezes nós fazemos aquilo que não queremos quando somos forçados a isso!”

É verdade que em certo sentido nós nem sempre fazemos aquilo que mais temos vontade de fazer, no caso de sermos forçados a alguma coisa. Mas esse não é o sentido em que foi descrito acima. O que foi descrito acima é que nós sempre fazemos a nossa vontade maior dentro das escolhas que nos é oferecida. Todos os nossos atos são necessariamente determinados por nossa vontade maior, mas isso dentre as escolhas oferecidas. A minha vontade maior nesse momento, por exemplo, pode ser viajar para Nova York. Mas isso não está dentre as minhas escolhas possíveis. Nesse momento a escolha que está diante de mim é somente entre continuar escrevendo ou parar de escrever. Dentre a opções que estão diante de mim é que eu necessariamente faço a minha vontade maior, determinada pelas circunstâncias, minha personalidade, minhas características, etc. Quando um ladrão pára alguém na rua, aponta uma arma e manda dar o dinheiro, podemos dizer que a pessoa entrega o dinheiro contrário a sua vontade. Mas isso foi contrário a sua vontade maior somente fora das escolhas naquele momento. No momento do assalto, essa é uma opção que não existe. As únicas opções no momento do assalto é entregar o dinheiro, reagir ou se entregar pra morrer. A escolhe do que será feito vai depender se a vontade de manter o dinheiro é maior do que vontade de não correr o risco de morrer reagindo. Mas se o livre-arbítrio realmente existisse, nós teríamos que cogitar a possibilidade do sujeito sendo roubado ter a vontade imensamente maior de entregar o dinheiro e não reagir, mas misteriosamente reagir sem causa nenhuma naquilo que ele próprio deseja fazer.

O que precisamos entender é que todo efeito tem uma causa e toda causa é o efeito de outra causa. As ações do ser humano, as suas vontades, os seus desejos, serão todos determinados por aquilo que as pessoas são e não por aquilo que elas não são. O que as pessoas são, por sua vez, é um desenvolvimento daquilo que foi gerado pelos seus pais, desde o ventre da mãe. São as características herdadas no ventre materno que irão determinas como a pessoa irá reagir às circunstâncias que enfrentará, em suas escolhas e no desenvolvimento de sua personalidade, no decorrer de toda a sua vida, seja para o bem, seja para o mal. "Alienam-se os ímpios desde a madre; desviam-se desde que nasceram". (Salmo 58:3)

O livre-arbítrio, portanto, é somente um termo sem sentido. Não pode existir arbítrio livre pra seres finitos, pois o que os seres finitos são, é invariavelmente determinado por aquilo que lhe é a sua causa de ser. E são as características de seu ser, por sua vez, que determinarão as suas preferências em suas escolhas. Os homens não podem agir contrário ao que eles são, ao que está estabelecido em sua natureza: “pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas malhas? então podereis também vós fazer o bem, habituados que estais a fazer o mal”. (Jeremias 13:23)

Aqueles que são pecadores merecem a condenação por serem pecadores. O que os arminianos dão a entender é que as pessoas só podem ser julgadas por aquilo que elas são caso seja verdade também que elas próprias escolheram ser o que elas são. Mas isso é uma sugestão irracional. Pra que alguém escolha alguma coisa, é preciso que ela exista. E se ela existe, ela já é alguma coisa, antes que possa sequer escolher. Ninguém pode escolher o que é, pois para escolher é preciso já ser. A verdade é que responsabilidade não tem nada a ver com escolher o que vai ser pois isso nem sequer é uma afirmação que faça qualquer tipo de sentido. Responsabilidade tem a ver com assumir o que se é. Os pecadores que forem condenados serão condenados por serem pecadores, mesmo que o estado de pecado seja um fato herdado do ventre de suas mães. Os pecadores que forem justificados, serão pelo sangue de Jesus; não serão condenados porque o sangue de Jesus encobre a culpa pelos pecados.

Não há injustiça nenhuma da parte de Deus nisso. Injustiça consiste em privar alguém de seu direito devido. Quando Deus condena os vasos de desonra, ele não está condenando ninguém por aquilo que eles não sejam ou por aquilo que não fizeram. Ele está os condenando por aquilo que eles foram endurecidos pra ser: pecadores.

Deus seja louvado!

2 comentários:

Anônimo disse...

Brilhante Frank! O argumento que você desenvolver nessas postagens foi um dos argumentos me fizeram "mudar de lado"

Robson disse...

Frank, acho que você pode usar esse espaço pra responder sobre um dos versículos que eu considero complicado afirmar que "todos" não se refira a "todos os indivíduos":

"Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida."

Veja que o primeiro "todos" da sentença se refere com certeza a "todos os indivíduos", então como o "todos" pode mudar de sentido tão rápido?