segunda-feira, julho 12, 2010

Arminianismo - Parte VII

Muitos cristãos acreditam que Deus seria injusto se ele condenasse alguém sem que ela tenha ouvido o evangelho. Este é provavelmente o motivo maior pelo qual muitos cristãos acreditam que o evangelho necessariamente tem que ser anunciado a todos os indivíduos para que elas possam ser condenadas. É certamente a objeção mais séria, pois envolve algo de importância absoluta: a justiça e a santidade de Deus.

Deus é justo e é santo. Isso é, sem dúvida, verdadeiro. Por esse motivo muitas pessoas acreditam que se elas afirmassem que o evangelho não é pregado a todos e ao mesmo tempo afirmarem que aqueles a quem o evangelho não foi pregado podem mesmo assim ser condenados, elas estariam com isso afirmando que Deus é injusto, pois nesse caso as pessoas estariam sendo condenadas por uma coisa que elas não sabiam.

Em primeiro lugar, nós temos que entender que melhor o significado de afirmarmos que Deus é o Criador. O fato de Deus ser o Criador significa que não há nada que exista de maneira independente da vontade dele e que não seja obra dele. Isso não se refere somente ao mundo tangível, mas também as idéias e conceitos que regem a forma com que as coisas são. A mera capacidade do homem de pensar, raciocinar e julgar é obra de Deus. O conceito do que é justo e o que não é também são obras dele.

Por esse motivo, é necessariamente impossível que Deus seja logicamente acusado de injustiça. Sendo Deus o Criador e reflexo do conceito de justiça, ele não pode ser acusado de injustiça sem incoerência lógica. Pra que Deus fosse acusado de injustiça, seria necessário existir um conceito de justiça fora da Criação dele. Mas nesse caso, ele não seria Deus, o que nos leva a nossa afirmação inicial de que sendo Deus, ele não pode ser acusado de injustiça, pois ele próprio é o padrão inviolável pelo qual qualquer coisa que exista possa ser considerado como justo ou não.

O principal problema da afirmação de que seria injusto alguém ser condenado sem que tivesse ouvido o evangelho é a falsa idéia de que o motivo de uma pessoa ser condenada é meramente que essa pessoa rejeitou o evangelho. Muitos cristãos acreditam que no juízo final, o mundo será dividido em dois grupos. Um será o grupo dos que aceitaram o evangelho. Outro será o grupo dos que rejeitaram o evangelho. Essa idéia é errada, pois ela erradamente pressupõe que todas as pessoas que já existiram, de fato ouviram o evangelho e tiveram a chance de aceita-lo ou rejeita-lo. Aqueles que nunca ouviram o evangelho não podem ser enquadrados em nenhum dos dois grupos, pois pra aceitar ou rejeitar o evangelho é preciso ter o ouvido.

O que é preciso ser compreendido urgentemente é que “o evangelho é o poder de Deus para a salvação”. (Romanos 1.16) Isso significa que sem o evangelho os homens estariam perdidos. O que o evangelho trás é salvação e não a condenação. A condenação é o que já existe antes do evangelho ser proclamado. O motivo pelo qual o evangelho é anunciado é justamente para que os homens não sejam condenados, que é o que seriam se o evangelho não tivesse sido proclamado. Isso significa que a causa da condenação existe independentemente do evangelho ser pregado ou não. A causa da condenação existe em algo que precede a pregação do evangelho e por esse motivo não pode ser verdade a afirmação de que uma pessoa só pode ser condenada se ela tiver rejeitado o evangelho. Isso seria uma negação do papel essencial do evangelho que é trazer a salvação. Se fosse verdade que uma pessoa só pode ser condenada se ela rejeitar o evangelho, isso significaria que não havia necessidade de Deus enviar evangelho algum, pois sem evangelho não haveria causa de condenação. O simples fato de que o evangelho é proclamado para que os homens possam se salvar, testifica que a causa da condenação está em algo independente da rejeição do evangelho. Quando um homem rejeita o evangelho, ele está somente rejeitando a possibilidade de deixar de ser aquilo que ele já era antes de rejeitar.

O motivo pelo qual os homens são condenados é que os homens são pecadores. “Não há um justo, nem um sequer. Não há quem entenda, não há quem busque a Deus... Tudo o que a Lei diz, diz aos que estão de baixo da Lei para que toda boca esteja calado e o mundo inteiro seja condenável diante de Deus”. (Romanos 3.10-11,19) Todos são pecadores e por esse motivo todos estão sujeitos a condenação. “E sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que tais coisas cometem”. (Romanos 2.2) As pessoas não são pecadoras somente porque que rejeitam o evangelho. As pessoas são pecadoras porque elas se rebelam contra a Lei de Deus, não amando Deus sobre todas as coisas nem ao próximo como a si mesmo. O evangelho é anunciado porque elas são pecadoras.

A Lei de Deus não é algo do qual os homens não têm nenhuma conhecimento. Romanos 2.15 afirma que as obras da Lei estão gravadas no coração dos homens. Quando Deus condenar os pecadores, não estará condenado por aquilo que o homem não tinha nenhum conhecimento. A Lei de Deus está naturalmente inscrita em nossa própria consciência. Quando pecamos e ainda tentamos falsamente justificar o nosso pecado, o que estamos na verdade fazendo é tentando negar aquilo já sabemos no íntimo de nossa consciência. Quanto mais nós nos entregamos ao pecado, mais nós enterramos a verdade da Lei de Deus que nós conhecíamos. Mas no Juízo de Deus, os pecadores serão condenados não só por Deus, mas pela própria consciência testificando contra eles de que “tendo conhecido a Deus não o honraram como Deus”. (Romanos 1.21)

Ninguém, portanto, é condenado injustamente por ser condenado sem ouvir o evangelho. O evangelho é somente a proclamação do meio pelo qual os homens podem fugir da condenação. O evangelho é, alias, o único meio que isso pode acontecer. A Lei de Deus justificaria o homem se ele não tivesse pecado. Mas tendo pecado contra a Lei de Deus, gravada na consciência humana ele está de baixo de condenação pois “Tudo o que a Lei (e isso inclui a Lei gravada na consciência) diz, diz aos que estão de baixo da Lei para que toda boca esteja calado e o mundo inteiro seja condenável diante de Deus”. (Romanos 3.19)

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