segunda-feira, julho 12, 2010

Arminianismo - Parte VIII

Isso nos trás então ao segundo fundamento do arminianismo:
  • Que cabe aos homens individualmente aceitar ou rejeitar tal salvação pelo uso do livre-arbítrio.
 Em primeiro lugar, é preciso definir o que é “livre-arbítrio”. É uma expressão que é usada pra significar coisas diferentes. Mas no contexto arminiano, “livre-arbítrio” significa a capacidade humana pela qual ele pode escolher aceitar ou rejeitar a salvação do evangelho. O arminiano acredita que a salvação é oferecida a todos os indivíduos e o motivo pelo qual todos os indivíduos não se salvam é porque nem todos aceitam aquilo que lhes é oferecido.

Nós já vimos qual é o primeiro erro desse pensamento. É o erro de acreditar que a salvação seja oferecida a todos os indivíduos quando na verdade não é. O motivo pelo qual nem todos não se salvam não é simplesmente a rejeição do evangelho. Muitos serão condenados tendo rejeitado o evangelho. Mas outros serão condenados sem ter ouvido o evangelho. Isso não é justificativa nenhuma pra fugir da condenação, pois eles são pecadores tendo ou não ouvido. Aqueles que rejeitam o evangelho serão condenados sim, mas serão condenados porque não aceitaram o único meio de ser salvo da condenação que já existia. Os homens são condenados porque pecam contra a Lei de Deus. Isso ocorre independente do evangelho ser pregado a eles ou não.

O segundo erro desse pensamento é a falsa idéia de que o arbítrio do homem seja moralmente livre para aceitar o evangelho de Jesus Cristo. Não há nenhuma passagem na Bíblia que ensine que o homem tenha um livre-arbítrio pelo qual ele é capaz de aceitar a salvação que lhe é proposta. O que a Bíblia afirma é exatamente o contrário. O que a Bíblia afirma é que o arbítrio do homem é escravizado pelo pecado. Jesus disse, “Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado”. (João 8.34) É por esse motivo que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus nem tem a capacidade de aceita-las...” (I Coríntios 2.14) “A mente carnal não está sujeita a Lei de Deus nem em verdade tem a capacidade de estar”. (Romanos 8)

É por isso que Jesus ensinou que, “Ninguém é capaz de vir até mim se o Pai que me enviou não o trouxer”. (João 6.44) O motivo pelo qual os homem são incapazes de ir até Jesus Cristo é que porque os seu arbítrio é escravo do pecado. Sendo o seu arbítrio escravo do pecado, ele é incapaz nem mesmo de se dispor a ir até Jesus. O desejo do homem é o pecado e ir até Jesus significa se arrepender do pecado que é exatamente aquilo que o homem é incapaz de desejar. Se o homem possuísse um livre-arbítrio para decidir se libertar do pecado ou não, ele não precisaria de Jesus. Ele poderia se salvar por si mesmo. O motivo pelo qual Jesus Cristo veio foi exatamente para libertar o homem do pecado. A incredulidade e a indisposição de se arrepender não são pecados dos quais um homem pode se libertar sozinho. Mas “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. (João 8.36)

Para que alguém vá até Jesus, é necessário que aconteça o contrário do que ensinam os arminianos. Os arminianos ensinam que pra alguém ir até Jesus é necessário que brote tal disposição do seu próprio coração e que se ele não quiser Deus não pode fazer nada. Mas a Bíblia ensina que naturalmente os homens não desejam ir até Jesus, pois isso implica na necessidade de se arrepender de nossos erros e passar a cumprir a Lei de Deus. Se Deus não interferisse na vontade do homem, como os arminianos afirmam que ele não faz, isso significaria que ninguém seria salvo pois "Ninguém é capaz de vir até mim se o Pai que me enviou não o trouxer”. (João 6.44) Os arminianos costumam ensinar que Deus, como um cavaleiro, respeita a vontade do homem pois se ele não respeitasse seria moralmente errado da parte de Deus. Em primeiro lugar, quem é o homem pra ditar pra Deus o que é moralmente certo ou errado pra que ele faça? A Bíblia nunca rebaixa Deus a posição de respeitador homens perversos. “Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre e cujo domínio é sempieterno e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada, e segundo a sua vontade opera com os exércitos do céu e com os moradores da terra. Não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?" (Daniel 4.34-35) Deus não tem respeito algum pela vontade decaída do pecador porque a sua vontade pecaminosa lhe é abominável (Salmo 5.4-6). O prazer de Deus está no homem cuja vontade é a justiça e a santidade. Quando Jonas, por exemplo, foi tomado por um sentimento de racismo contra os Ninivítas, o que Deus fez não foi respeitar o seu arbítrio escravizado pelo racismo e dizer que Jonas tinha o direito de fazer o que quisesse. O que Deus fez foi puni-lo até que o seu arbítrio deixasse de ser escravo do racismo para passar a servir a Lei de Deus em amor ao próximo. Da mesma forma, quando Saulo de Tarso passou a se comportar como um assassino insano dos filhos de Deus, o que Deus fez não foi respeitar o arbítrio de Saulo de ser um assassino. O que Deus fez foi jogar Saulo do cavalo e fazer dele um cristão. Deus não converteu Saulo porque ele era uma boa pessoa nem porque ele tava buscando a Deus em seu coração, pois “Ele nos salvou não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia”. (Tito 3.5) Saulo era inimigo de Cristo e o seu desejo era de assassinar todos seus seguidores. O que Deus fez foi desrespeitar o seu desejo de Saulo, transformando a sua vontade e conduzindo ele, com um novo coração até Cristo para que ele passasse a ser um daqueles a quem ele anteriormente odiava. Como está escrito, “Não depende de quem corre nem de quem quer, mas de Deus que se compadece”, pois “é ele quem opera em vós tanto o querer quanto efetuar”. (Romanos 9.16, Filipenses 2.13)

Para tentar provar a existência do livre-arbítrio, os arminianos costumam citar textos bíblicos que se referem à escolhas. O erro aí é achar que “escolha” e “livre-arbítrio” são sinônimos quando não são. Que a Bíblia fala em escolhas é óbvio. Nenhum cristão questiona a existência de escolhas. Mas isso não significa que a Bíblia esteja falando de “livre-arbítrio” quando fala de escolhas. “Livre-arbítrio” conforme ensinando pelo arminianismo refere-se à capacidade do homem de decidir entre receber o evangelho ou não.

Mas a verdade é que quando alguém é muito fortemente inclinado a um determinado desejo, ele se torna incapaz de efetuar uma escolha que envolva contrariar o seu desejo mais forte. Isso não significa que ele não tenha escolha. Significa somente que ele é demasiadamente inclinado pelo seu desejo íntimo a uma escolha para que seja capaz de escolher o contrário.

“Eis que estou a porta e bato. Se alguém ouvir a minha e abrir a porta, entrarei em sua casa e ceiarei com ele e ele comigo”. (Apocalipse 3.20)

O texto fala de Jesus Cristo ordenando que a porta seja aberta para ele. Mas isso significa somente que as pessoas têm obrigação de abrir. Não significa que as pessoas tenham o livre-arbítrio pra desejar abrir. Existe uma diferença enorme entre afirmar que alguém a obrigação de fazer alguma coisa e dizer que ela tenha a capacidade de fazer tal coisa. Como já vimos o homem natural não tem a capacidade de aceitar as coisas do Espírito de Deus, pois tais coisas lhe parecem tolice. O fato de a Bíblia afirmar que o homem tem a obrigação de fazer uma coisa não significa que ele tenha também um livre-arbítrio pra fazer, pois para ter seria necessário que o homem não fosse escravo do pecado. O homem, por exemplo, tem a obrigação de deixar de pecar e ser completamente santo. Mas ele não é capaz de fazer isso e todos são pecadores.

O motivo pelo qual os arminianos se recusam a acreditar que o arbítrio do homem seja completamente escravo do pecado e que dependa exclusivamente da boa vontade de Deus em transformar o seu arbítrio para que ele seja capaz de crer no evangelho, é que os arminianos entendem que se a conversão do homem fosse algo que dependesse exclusivamente da operação Deus, todos as pessoas seriam salvos, porque eles acreditam que Deus deseja salvar todas as pessoas que já existiram. Por esse motivo, o arminiano prefere acreditar que o motivo pelo qual nem todas as pessoas são convertidas é simplesmente porque isso é algo que está além da decisão de Deus e que depende do livre-arbítrio humano.

O problema é que a explicação bíblica do motivo pelo qual nem todas as pessoas são convertidas não é a de que Deus não interfira no arbítrio do homem. A Bíblia não poderia afirmar que esse seja o motivo porque ela explicitamente afirma por toda parte que Deus interfere no arbítrio do homem. A verdade é que nenhum cristão acredita verdadeiramente que Deus não possa interferir no arbítrio do homem, pois se ele acreditasse verdadeiramente nisso, ele deixaria de orar por 97% das coisas pelas quais ele ora. Se Deus não interferisse no arbítrio do homem, nós não poderíamos orar pra quase nada daquilo que as pessoas costumam orar. Não poderíamos, por exemplo, pedir a Deus pra se sair bem na entrevista de trabalho no dia seguinte, pois pra isso é necessário que Deus mova o nosso arbítrio pra dar respostas adequadas e o arbítrio do entrevistador pra gostar de nossas respostas. Não poderíamos pedir diminui a violência na cidade, pois pra Deus atender esse pedido é preciso que ele mova o arbítrio dos criminosos pra que sejam menos violentos do que naturalmente são. Se Deus não pudesse interferir no arbítrio dos homens, não poderíamos também orar pela conversão de nossos amigos e familiares, pois pra que ele atenda, é necessário que ele interfira em seu arbítrio. A maior parte daquilo pelo qual oramos e isso inclui os arminianos, depende diretamente da constante interferência de Deus na vontade do homem. Se Deus não interfere na vontade humana, então a única coisa pela qual poderíamos orar era pra parar de chover, pra fazer sol ou para os cometas pararem de se chocar com Saturno, pois estas coisas, sim, podem ser atendidas sem que Deus precise interferir na vontade do homem.

O que as pessoas precisam compreender é que privar Deus do direito de interferir no arbítrio do homem é relegar a sua onipotência para a esfera da natureza, excluindo ele da esfera humana. Um Deus assim não é o Deus que a Bíblia nos manda acreditar, mas é o deus dos epicureus com quem Paulo debate em Atos 17, que acreditavam que os deuses, não interferiam nos afazeres do mundo. Simplesmente criou o mundo e foi embora. A pressuposição arminiana de que Deus não pode interferir no arbítrio do homem, se levado até as ultimas conseqüência, conduz a uma negação dos fundamentos do evangelho que é exatamente a afirmação de que Jesus cristo veio ao mundo para salvar os homens da vontade pelo pecado. A pressuposição arminiana sobre Deus ser um cavaleiro que fica passivamente aguardando o nosso parecer, se levado a sério (o que não é pelos arminianos) é uma negação de tudo aquilo que Jesus se propõe a fazer por nós. É uma horrenda blasfêmia contra Deus.

A explicação bíblica do motivo pelo qual nem todas as pessoas são convertidas é simplesmente porque Deus escolheu salvar alguns e escolheu não salvar outros, interferindo no arbítrio de alguns para convertê-los e a deixando de fazer isso por outros. Isso é ensinado explicitamente por no sexto capítulo do evangelho de João:

“Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede. Mas como já vos disse, vós me tendes visto, e, contudo não credes. Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia... Ninguém tem a capacidade de vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia... Mas há alguns de vós que não crêem....Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido”. (João 6.35-39,44,64-66)

Jesus começa simbolicamente identificando a si mesmo com o pão e a água da vida. Isso já é suficiente pra contrariar todos que acreditam que existam outros meios de salvação que não seja Jesus Cristo como é o caso do evangelista Billy Graham. Em seguida ele reclama daqueles que não criam nele. Esses estariam em perigo, pois não estariam se alimentando do pão e da água da vida. É aí que Jesus afirma que “todo aquele que o Pai lhe deu” não estariam neste mesmo perigo, pois estes iriam até Jesus. Mas ao mesmo tempo, Jesus afirma que eles não tinham crido em Jesus por nenhuma capacidade inerente neles. Pela capacidade deles próprios, eles eram incapazes de ir até Jesus. Eles tinha ido até Jesus porque o Pai os tinha concedido que fosse. Jesus finaliza então mostrando que aqueles que aqueles que não foram dados pelo Pai não iriam até Jesus, pois só poderiam ir aqueles que foram escolhidos pelo Pai pra ir.

Paulo ensina a mesma coisa no nono capítulo da carta aos Romanos:

“....pois não tendo os gêmeos [Jacó e Esaú que era os dois filhos de Isaque que foi citado no versículo anterior] ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú. Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus?” (Romanos 9.11-13)

Os arminianos costumam ensinar que na eleição, Deus predestina para a salvação aqueles que ele já sabe que crerão nele e serão obedientes. Isso é um absurdo, pois como nós vimos em João 6, Jesus explicitamente ensina que o homem é incapaz disso. Argumentam que Deus sendo onisciente, já sabia quem iria ser obediente ou não e por isso escolheu esses para serem salvos. Mas essa interpretação é contrária ao que é dito aqui. Quando Paulo afirma que a eleição foi declarada “não tendo os gêmeos ainda nascidos” o objetivo todo é provar que a eleição não se baseou no bem ou no mal que seria praticado. A afirmação de que a eleição levou em consideração o bem ou o mal que Deus já conhecia previamente contradiz frontalmente aquilo que Paulo quer dizer.

Além disso, se a intenção de Paulo fosse dizer que Deus escolheu baseado em presciência do bem e do mal nos gêmeos, não faria nenhum sentido ele antecipar a pergunta que ele saberia que muitos iriam lhe fazer: "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus?" Essa pergunta nunca é feita para os arminianos porque os arminianos ensinam que a eleição é baseada na presciência de Deus em relação ao que os homens farão. Essa pergunta é feita pra Paulo porque ele ensina que a eleição ocorre sem levar em consideração o bem e o mal que os gêmeos fariam. Ele sabe que muitos acusarão Deus de justiça quando forem ensinados que a eleição não é baseada em presciência, mas no mero beneplácito de Deus.

Paulo então responde:

“De modo nenhum. Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia. Pois diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra. Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece. Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade?” (Romanos 9.14-19)

Paulo aqui antecipa novamente a objeção que ele sabe que seria feita pra ele. Paulo acostumado a pregar essa mesma coisa em diversos lugares, já deveria estar acostumado a ouvir esta mesma objeção lhe sendo feita inúmeras vezes. Se Deus é aquele que “tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece” e isso “não por causa das obras”, e isso sem que “dependa do que quer”, isto é, não baseado no que as pessoas virão a fazer, então “Por que se queixa ele ainda?” Isso não significaria que essas pessoas na verdade não são responsáveis pelos seus atos? Se tudo é pré-ordenado por Deus, isso não significa que no final, ninguém pode ser culpado por nada?

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